segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Vivalma: mostrando que o prog metal pode alcançar o sucesso


O mundo recebeu com alegria esta semana a notícia de que em breve poderemos por as mãos em mais um álbum do PINK FLOYD (um dos ícones do rock progressivo, embora haja controvérsias se a banda pode ser classificada ou não como progressiva). Do lado do metal progressivo, uma das maiores bandas do estilo está prestes a aportar em terras tupiniquins, o DREAM THEATER. Aproveitando tudo isso, conversamos com uma das bandas brasileiras que desponta e promete levantar a bandeira do estilo no Brasil, a VIVALMA. Conversamos com Odilon Gonçalves, guitarrista do quinteto, sobre a cena progmetal em nosso país e, principalmente, sobre o álbum "Human Effect", uma pérola conceitual (e dupla) que recentemente teve sua produção garantida graças ao sucesso em um site de financiamento coletivo. Composta por Marco Petucco (voz), Odilon Gonçalves (guitarra), Gus Martins (teclado), Raphael Filt (baixo) e Mario Gaiotto (bateria) e com influências como PAIN OF SALVATION, MUSE, RUSH, YES, PORCUPINE TREE, OPETH, DREAM THEATER e SYMPHONY X, a banda paulista deve finalizar até o final do ano a prensagem de "Human Effect". Você confere a conversa abaixo:





Hoje temos uma infinidade de bandas revivendo o thrash metal oitentista, mas o número de bandas de prog e prog metal ainda é pequeno. Como vocês vêem a cena prog no Brasil?
Odilon Gonçalves: Infelizmente, vejo a cena do progressivo pulverizada, desunida e, em alguns casos, com o péssimo costume de criar uma rivalidade nos aspectos técnicos, o que é muito nocivo. Ou seja, praticamente não existe a cena do prog. As bandas de prog precisam aprender muito com a cena do Metalcore (PROJECT46, COMMAND6, TRAYCE, etc), por exemplo, para agir de forma mais unida organizada e, principalmente, solidária. Quanto ao Thrash, é inegável que o Brasil sempre foi um grande celeiro de bandas mais extremas, tanto de Thrash quanto de Death Metal. Basta ver que alguns dos maiores nomes do nosso cenário fazem parte destes subgêneros.

Vocês veem a complexidade técnica, algo inerente do prog (apesar de algumas bandas de Death e Thrash se aproximarem muito disso), como um empecilho para o surgimento e consequente disseminação do prog no Brasil?
Odilon: No Brasil, o que eu ouvi muito de outros músicos, ao longo de minha carreira, foi que ter uma banda de progressivo dá muito trabalho. Não conecto esse trabalho apenas à parte técnica, de você passar 8 horas diárias estudando seu instrumento, mas a tudo o que envolve o progressivo. O progressivo, para mim, é sinônimo de materiais com bom acabamento, e gerar materiais desse tipo é trabalhoso.

Apesar disso, o DREAM THEATER, um dos maiores expoentes do prog metal no mundo, estará no mês que vem em extensa turnê por aqui. Além disso, shows de bandas como ANGRAALMAH e, mais recentemente, NOTURNALL (que, embora sejam rotuladas costumeiramente como power metal, tem muitas características de prog) costumam fazer muito sucesso de público e crítica. Mais ainda, em estados como o Ceará, bandas como COLDNESS e JACK THE JOCKER começam a atrair cada vez mais atenção, até fãs clubes e petições on-line para abrir o show da já citada DREAM THEATER. Tudo isso mostra que há público para o prog metal em todo o nosso país, embora não haja tantos eventos e bandas como de thrash ou death. Quais os planos de vocês para levar as estórias do Envision para o público de todo o Brasil? Já tem feito contato com produtores fora de São Paulo?
Odilon: Como todos no VIVALMA têm profissões paralelas, depois de muitos testes, encontramos algumas formas de organização para fazer as coisas acontecerem. Assim, hoje nós dividimos o VIVALMA em ciclos de trabalho. No momento, estamos encerrando o ciclo do “disco físico, recompensas do Catarse e vídeo ao vivo”. Em paralelo, já estamos arquitetando o próximo ciclo. O que posso adiantar é que, por estarmos vendo - há alguns anos - diversas bandas autorais "morrerem" por conta de uma ideia de "fórmula padrão de desenvolvimento de bandas no Brasil", e por já termos sofrido na pele com a precariedade geral da cena, estamos desenvolvendo um novo caminho. Algo que faça mais sentindo dentro de nossas vontades, e que também esteja conectado com a essência detalhista de nosso tipo de som. A ideia é despertar um público que está adormecido e anestesiado, que não tem mais costume de ir a shows.

Vocês tem um projeto de sucesso no Catarse. Entre lançar um disco de graça e cobrar pelo outro (como está fazendo o U2), vender discos pelo preço sugerido pelos fãs, o financiamento coletivo (ou, como chamam alguns, vaquinha virtual) é mais uma forma para que os músicos consigam lançar seus álbuns. O que vocês podem acrescentar sobre isso? O futuro da música pode estar aí?
Odilon: Percebo que o financiamento coletivo é visto de formas diferentes pelas pessoas que já o usaram. No VIVALMA, temos a preocupação de não torná-lo um abuso ou uma "forçação de barra". Adotamos a vaquinha virtual porque, realmente, não tínhamos de onde tirar a verba necessária para prensar nosso disco com qualidade, e resolvemos abrir o jogo com nosso público. Deixamos claro que investimos, do nosso bolso, nas melhores opções de mercado até onde foi possível. Futuramente, quem determinará se voltaremos a usar mais ou menos projetos de crowdfunding será nosso próprio público. Ou seja, se percebermos uma demanda por itens exclusivos, que só podem ser encontrados em campanha, ou que as pessoas tenham mais pressa por materiais inéditos do que podemos produzir dentro de um cronograma normal, provavelmente usaremos dessas ferramentas.

E sobre disponibilizar o álbum para audição na íntegra em sites como Youtube e SoundCloud. Pelo resultado no Catarse, não houve efeito negativo (ou talvez até isto tenha sido parte do que os levou ao sucesso no projeto), mas em nenhum momento vocês pensaram que isto afetaria as vendas do artefato físico?
Odilon: Para nós, o que faz sentido, nesse primeiro momento, é que sejamos ouvidos pelo maior número de pessoas possível. Todo o investimento que está girando em torno do 'Human Effect' é para conquistar uma chance de sermos ouvidos. Isso porque confiamos muito no nosso material e entendemos que, se o público certo nos der uma chance, ganharemos um espaço especial em sua lista de consumo. Sabemos que esse primeiro passo é de investimento, e que o retorno financeiro virá após fidelizarmos essas pessoas.



Para quem não pode participar do projeto a tempo e quiser adquirir o "Human Effect", quais os meios vocês pretendem disponibilizar?
Odilon: Hoje você já pode comprar o 'Human Effect' pelos principais canais de comércio digital de música, como iTunes, CD Baby, Amazon, entre outros. Em breve teremos nossa loja online, que também comercializará produtos físicos, e estamos analisando as melhores opções de distribuição – se fazemos parceria com empresas desse segmento ou se tornamos nossos materiais físicos itens exclusivos para pessoas que forem aos nossos shows e comprarem da nossa "barraquinha".

Estrear com um álbum conceitual é muito corajoso, ainda mais quando esse é um álbum duplo. Vocês chegaram a cogitar lançar um álbum simples ou sempre tiveram a ideia de fazer "Human Effect" da forma como o fizeram?
Odilon: O 'Human Effect' surgiu de uma forma muito natural e espontânea. Foram as músicas e letras que estávamos querendo fazer, tomando nós mesmos como público consumidor. Não é um disco com pretensão de concorrer - no aspecto de complexidade lírica - com os Ayreon, do Arjen Lucassen, por exemplo. Foi um material que fez sentido para nós nessa fase de nossas vidas. Discutimos seguidas vezes sobre lançar o 'Human Effect' em formato simples ou duplo. A parte financeira era um ponto importante nessa decisão. No fim, entendemos que não poderíamos podar um material que foi escrito dentro de uma mesma atmosfera musical. Para nós, seria como interromper a experiência visceral que sugerimos com o 'Human Effect'.
Bem, estamos falando de uma banda corajosa desde o início. Vocês gravaram o clipe para "Proudhome" ao vivo no Manifesto Bar (em São Paulo). A ideia de gravar um show inteiro e disponibilizá-lo num DVD ou no próprio YouTube ainda é algo distante ou vocês já começaram a pensar em algo dessa natureza, quem sabe com mais um projeto de financiamento coletivo?
Odilon: Vídeo é um material muito importante como elemento de contextualização e divulgação de qualquer trabalho hoje em dia. Seguiremos com a produção de vídeos pontuais e mais curtos. O VIVALMA entende totalmente a importância de um DVD ao vivo. Mas, voltando aos ciclos de trabalho que comentei anteriormente, não é uma coisa que estará em nosso próximo ciclo de curto prazo. Em médio prazo, com nosso público crescendo e tendo a infra de palco que almejamos para um ótimo espetáculo, com certeza, idealizaremos esse material.
Por favor, conte pra todo mundo que acabou de chegar de Marte o que está por trás de "Human Effect", qual o conceito que permeia a história.
Odilon: 'Human Effect' tem uma característica obscura e, de certo modo, introspectiva. São oito músicas (sendo que a trilogia Envision é dividida em três faixas, totalizando 10), que podem funcionar de forma independente, mas que têm como ponto comum as visões do personagem Envision. Ele, por ser sensitivo, “vê” a história das pessoas que protagonizam as outras letras. Propomos, essencialmente, uma reflexão sobre o comportamento humano. Sobre ação e reação do que decidimos fazer em nossas vidas.

De quem foi a ideia dessa história? Há um Neil Peart entre vocês ou é fruto da contribuição de cada um?
Odilon: Foi minha a ideia do Envision como personagem de uma trilogia e como elemento de interligação entre as 10 faixas. O lance da sensitividade foi algo que eu estava refletindo muito na época e quis colocar no papel, quis me expressar sobre isso de alguma forma. Misturei essas reflexões com algumas metáforas da minha vida pessoal. Sabemos que, no Rush, só o Neil escreve letras, mas no VIVALMA não existe censura nenhuma. Qualquer um dos membros pode colaborar com letras. Não sou um cara muito experiente escrevendo músicas, tenho somente um álbum lançado, mas pude perceber que escrever uma letra de música é mais complexo e demanda mais suor do que pode parecer.



Vocês já disseram que tem planos de tocá-lo na íntegra, mas não na mesma ordem. Isso já aconteceu? Senão, enquanto isso não acontece, que músicas não podem ficar de fora do repertório dos shows, quais tem tido maior aceitação por parte do público?
Odilon: Nós ainda não tocamos nenhuma das três partes da Envision ao vivo. 'A Touch', 'Feeland Flow' e a 'Vivalma' também não. Mas já temos um evento programado para 30 de setembro, onde estrearemos algumas delas ao vivo! Nos shows, não podem faltar a 'Proudhome' e a 'Solitude'. São as músicas que mais têm atraído a atenção do público em geral.

A banda já se chamou Envision. Hoje, este é o nome do personagem principal de "Human Effect". Além destes, já teve outros nomes. Qual o motivo dessas mudanças até chegar ao definitivo VIVALMA?
Odilon: Encontramos, pelo mundo, outras duas bandas com o mesmo nome, Envision. Ficamos “broxados” com isso e não vimos sentido em manter um nome repetido. Queríamos um nome que pudesse soar bem globalmente, sem barreiras de idioma. Os nomes anteriores a esse faziam sentido quando éramos mais moleques, lembrando que a ideia de ter uma banda autoral existe desde que o tecladista Gus Martins e eu tínhamos 15/16 anos. VIVALMA era o nome de uma música nossa que já existia. Foi ideia do vocalista Marco Petucco puxar o nome, pois a música simbolizava 100% do que somos enquanto banda.

Vocês estão com um novo baterista, Mario Gaiotto, formado em percussão sinfônica pela Unesp, que entrou na banda logo após a gravação de "Human Effect". O novo baterista declarou recentemente “Eu fiquei impressionado com o som do VIVALMA porque eu não tinha notícia de nenhuma banda no Brasil que estivesse fazendo um som com tanta qualidade dentro do Rock, do Prog Metal''. No entanto, eu imagino que ele esteja ansioso para começar a dar suas próprias contribuições ao VIVALMA. Isso será possível já nas faixas de "Human Effect" ou vocês já começam a visualizar, mesmo de forma distante, o seu sucessor?
Odilon: O Mario está ansioso para isso e já planejamos algumas formas de dar vazão criativa ao talento dele. De cara, ele recebeu carta branca para personalizar alguns arranjos rítmicos, e isso virá ao conhecimento do público em breve, com vídeos focados em bateria. Num segundo momento, dentro do próximo ciclo de trabalho que estamos planejando, teremos oportunidade de escrever alguns materiais pontuais em conjunto, mas não chegam a ser músicas novas para disco. Depois, virá o próximo álbum. Da minha parte, posso dizer que tenho um prazer gigante em compor música. Algo quase como um hobby.

Uma coisa curiosa é que duas partes de "Envision" recebem nomes que remetem a gigantes do prog ("Pt. 1 - Genesis" e "Pt. III - Echoes", é impossível não lembrar do PINK FLOYD). Há alguma intencionalidade nisso ou foi mera coincidência?
Odilon: É uma boa pergunta, porque nunca ninguém me perguntou sobre isso - nem meus companheiros de banda (risos). Quando esses dois nomes brotaram na minha mente, num primeiro momento, julguei nomes adequados para a temática de cada uma dessas partes da letra. Pensava em palavras simples. Quando me questionei o porquê de colocar esses nomes, percebi que estava numa fase de ouvir bastante essas bandas que você citou. Assim, achei bacana fazer uma homenagem a esses monstros sagrados do prog, unindo uma coisa à outra.

Pra finalizar, parabéns pelo disco (não só pelo sucesso no catarse, mas pelo conteúdo - ouvi e gostei bastante), use esse espaço para convidar quem ainda não conhece o VIVALMA a conferir o trabalho de vocês.
Odilon: O VIVALMA é uma banda que trabalha com muita sinceridade e esforço em cada coisa que se propõe a fazer. Se você curte músicas com várias camadas e climas, ou mesmo se é um consumidor compulsivo de bons filmes, séries, games e livros, e está procurando por uma banda brasileira de cinco caras que amam o que fazem, ouça nosso disco de estreia, 'Human Effect'! Será uma viagem bem completa em um novo mundo, e poderá servir de trilha sonora para muitas coisas que você curte fazer.





Fonte: Vivalma: confiamos muito no nosso material http://whiplash.net/materias/entrevistas/210956-vivalma.html#ixzz3EjZCN0ar

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